domingo, 18 de fevereiro de 2024

Por que se tem “feira” nos nomes dos dias da semana?

Domingo, segunda, terça, quarta…

Por que os dias da semana são chamados dessa forma? E por que se diz quinta-feira, por exemplo, feira nos dias úteis? De onde vem a tradição de organizar os dias em sete unidades? Os quais são fixados no calendário como uma semana.

O uso do termo semana na língua portuguesa surgiu provavelmente por volta do ano 1200, mas sua origem remonta há bem antes. Tudo indica que o conceito de “semana” vem dos babilônios. Posteriormente, o termo foi adotado pelos gregos, os quais nomearam esses períodos com base no número sete. Assim, o nome semana tem relação com o número sete, uma vez que se deriva do grego hepta e, tempos depois, do latim septímana.

Já as formas como chamamos cada dia da semana têm motivações que vêm, por exemplo, da astrologia e do cristianismo. A astrologia tinha forte influência sobre os romanos, por isso os nomes foram tomados de astros e, também, de deuses. Em espanhol, por exemplo, segunda-feira é lunes, homenaje a la luna: dia da lua. Ao passo que a terça-feira é martes, deus da guerra, que os romanos chamavam de Marte; quarta-feira é miércoles, em homenagem à mercúrio, deus do comércio; quinta-feira é jueves, em referência a júpiter; e sexta-feira, viernes, associado a Vênus.

Já o sábado, inicialmente, foi associado ao dia de saturno pelos romanos. Só que depois, com o crescimento do Cristianismo, o sábado passou a designar o sabbatum, proveniente de sabath “descansar”, ou seja, o dia da semana voltado para o descanso pelos judeus. Quanto ao domingo, em latim, este se chamava solis dies (dia do sol), mas os cristãos trocaram para dominicus (que designava o dia do Senhor, dies dominus).

Quanto ao termo “feira”, utilizado nos dias da semana em português, vem do latim e significa “dia de descanso”. Como assim? Se “feira” remete a descanso, por que se utiliza “feira” somente nos dias úteis? O nome “feira” – que utilizamos para designar os dias da semana – tem origem no latim.  Tudo começou por volta do séc. VI, logo após um concílio da Igreja Católica, na cidade portuguesa de Braga.

A origem do nome “feira” vem “feria”, em latim, cujo significado era “dia de descanso”. Muito controverso, né? Já que “feira” aponta para os dias da semana em que se há trabalho, ou seja, os dias úteis, e não remete a descanso.  Pois bem, nessa reunião da Igreja Católica, em Portugal, discutiu-se a insatisfação da Igreja em homenagear os dias da semana com nomes de deuses pagãos, ou seja, esses deuses não eram aceitos ou reconhecidos pela Igreja.



E esta fórmula de se aplicar feria, que originalmente seria dia de descanso, aos dias úteis é uma regra válida apenas para a Língua Portuguesa. Tudo teve início, pelo o que se sabe, quando o Bispo Martinho de Braga, importante nome da Igreja, há época, ordenou que todo cristão deveria repousar/descansar nos dias da Semana Santa. Em outras palavras, durante a semana santa, adicionou-se, em Portugal, o nome “feria” aos dias da semana para simbolizar o descanso. Mas, com um tempo, os portugueses fixaram o termo “feira” ao nome dos dias normais de trabalho. Com exceção do sábado e do domingo. Dessa forma, nomes de astros e deuses foram margeados e a sequência segunda, terça, quarta, quinta e sexta se sobressaiu, acrescidos de “feira”.
Como vimos, o sábado da LP vem do hebreu, que significa descanso dos judeus; e o domingo permaneceu do latim: Dies Dominicus, dia do senhor. Vale lembrar que desde o séc. IV, o imperador romano Constantino estabeleceu que as semanas teriam sete dias, iniciando-as pelo domingo, dada a forte influência da bíblia, afinal, conforme as escrituras, Deus criou a terra em seis dias e descansou no sétimo dia.
Assim, constata-se que os deuses foram deixados à margem pela língua portuguesa, mas se mantiveram fortes em outras idiomas. No inglês, por exemplo, além dos deuses, como Tyr, que dá origem a tuesday (terça-feira) e Thor (quinta-feira), thursday, os astros também são homenageados, a saber: sunday, domingo, dia do sol; monday, segunda-feira, dia da lua. E por aí vai…
 
 
Alan M. César
Professor, Escritor e Doutor em Linguística.