“Todos somos clientes” abre a seção A PALAVRA É... deste novato Blog. A partir de uma determinada palavra, vou apresentar sua origem, sentido e algumas reflexões de seu uso. Hoje, começo por Cliente.
Cliente
é uma palavra de dois gêneros
(ou seja, empregada tanto para o masculino quanto para o feminino) que tem origem
indo-europeia: kli-ent. Antigamente, em uma parcela específica da
sociedade romana, cliēns ou clientis era aquele que estava
sobre a proteção do outro. Seu dever era escutar, seguir e obedecer,
geralmente, um magistrado (a exemplo de algum membro do poder), um
alto funcionário ou, até mesmo, um grande proprietário.
Então,
se alguém era capaz de influenciar e guiar outra pessoa de tal maneira, este
que se submetia era, naquela época, um cliente nato. Talvez, quase um servo.
Depois
de muitos anos, o sentido da palavra cliente evoluiu e ganhou um novo
sentido. Deixou de significar apenas aquele que obedece (fielmente) e passou a
designar também aquele que favorece alguém por meio do pagamento de mercadorias
ou serviços – conotação da qual utilizamos hoje. Assim, quem passou a ter
clientes foram os banqueiros, os empresários, as redes de ensino etc.
Inacreditavelmente,
o antigo conceito lá de Roma (aquele que escuta, segue e obedece) se mantém até
hoje. Onde? Na ciência política! Só que o jogo ficou mais sério. Você já ouviu
falar em clientelismo? Derivação associada à prática eleitoreira que
privilegia uma clientela em troca de votos, por meio de favores entre quem
detém o poder e quem, comumente, encontra-se necessitado.
Caro
leitor, em nosso país há práticas de clientelismo? Há políticos oferecendo
favores, empregos, ascensão profissional em troca de votos? Se você já votou em
alguém em troca de algo dessa natureza, então você é um cliente: um cliente dos
tempos primórdios. Há ainda os subclientes: clientes que preferem os produtos
da esquerda, outros que preferem os produtos do centro e outros produtos da
direita.
Há
quem diga que o clientelismo está desprestigiado. Mas, como posso chamar de
desprestigiado, algo que não parece estar fora de moda? Não se derrubam árvores
à toa.
De
Roma para cá, o número de clientes só tem aumentado. Há clientes que confiam os
seus interesses a advogados. Que obtêm seus alimentos por meio de comerciantes.
Que se consultam com professionais da saúde. Que pagam às escondidas por
serviços considerados culturalmente escusos, por medo de recriminação.
Por
semelhança, telespectadores também são clientes. Pois, nesse contexto, há
possível lucro tanto por meio do voto quanto da audiência. Vale lembrar que o
poder das palavras (discurso) pode te convencer a comprar um livro, um curso ou
simplesmente ficar segurando sua atenção por horas, contabilizando receitas.
Para
finalizar, pergunto: como cliente, qual produto você anda comprando para a sua
vida? Esse
produto visual que te prende por horas te faz bem? Esse produto/argumento que
você defende é melhor para todos, de fato? As causas e pessoas que você defende
são capazes de te levar a algum lugar (pessoal, financeiro, professional) ou é
apenas uma âncora que não te deixa ver o que existe de mais valioso em sua
volta? Quais produtos você anda colocando na sacola de sua vida? Antes de
pagar, deixa no caixa aquilo que não vai te servir. Aproveita que a gratidão, o
amor, o conhecimento, a bondade e a força vontade estão sempre na promoção.
São
muitas coisas para pesar como cliente, não é mesmo? Não é fácil ser um.
Fontes
pesquisadas: https://www.elcastellano.org/ e Dicionário
Eletrônico Houaiss (v. 3.0)
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